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Empresas abrem as portas para animais de estimação

Empresas abrem as portas para animais de estimação, mas precisam respeitar
quem não gosta de bichos

por Juliana Garçon
03/05/2015 7:00

RIO - Eles migraram do quintal para a sala e para a vida social das famílias. São 37 milhões de cachorros e 21,3 milhões de gatos domésticos, que colocam o Brasil em quarto lugar no ranking global de números de animais de estimação, atrás de China, EUA e Reino Unido. Essa paixão animal movimenta R$ 16,4 bilhões por ano, em alimentos, remédios, acessórios e produtos para higiene e beleza, segundo estimativa da Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (ABINPET). Com tais números, nem o céu é limite para as empresas, no esforço de atrair clientes que têm pets, sem afastar nem ferir os direitos daqueles que preferem manter distância dos bichos.
Há pouco mais de um mês, a Gol fez um upgrade no embarque de cães e gatos com até 10kg: eles saíram do compartimento de cargas e passaram a voar nas cabines, junto com os donos. Já são pelo menos 30 embarques por dia. Um terço deles voa para São Paulo, onde, desde março, vigora uma lei que permite mascotes de pequeno porte nos ônibus municipais, claro, dentro de jaulinhas e pagando passagem. No Rio, o assunto é tema de projeto de lei, e o metrô já permite o transporte de animais pequenos, nas gaiolinhas.

LAMBIDAS NO ELEVADOR
O número de bares e restaurantes que aceitam bichos só cresce no Rio. Nos shoppings, onde nem sempre eram bem vistos, eles agora encontram políticas pet friendly, na forma de kits de higiene e até carrinhos para transporte, semelhantes aos de bebê. Já o Recreio Shopping preparou coquetel para os donos e quitutes para os cães ao anunciar que abriria as portas para os bichinhos.

O problema é que, às vezes, os “direitos dos pets” trombam com os das pessoas que — por medo, alergia ou preocupação com higiene — não querem tanta proximidade com bichos.

— Nenhuma empresa é obrigada a aceitar animais. Se o faz, é porque acredita que vai atrair mais clientes que repelir. Deve sinalizar na porta, e quem não quer se arriscar a comer perto de um cachorro pode escolher outro estabelecimento — comenta Janaína Alvarenga, advogada da Associação de Proteção e Assistência aos Direitos da Cidadania e do Consumidor (Apadic), que gosta de animais, mas dispensa cheiradas e lambidas no elevador.
Como sempre acontece com as novas situações sociais, a presença dos mascotes não é plenamente regulada, e a convivência se apoia no bom senso. A exceção é o veto aos animais nas praias. No Rio, a fiscalização é diária, mas não há multa. A coisa muda de figura para quem deixa o cocô do mascote na calçada: multa de R$ 106. Nos estabelecimentos comerciais, o proprietário pode liberar ou não a presença dos bichos, mas a legislação proíbe animais nas áreas de manipulação ou circulação de alimentos. A punição por descumprimento vai de R$ 1.020,30 à interdição do local.

COMO SE FOSSE UM FILHO
Os donos, por sua vez, devem preservar o espaço das outras pessoas, por exemplo, deixando que os vizinhos tomem o elevador sem partilhar o espaço com mascotes. E o que acontece se o passageiro ao lado está levando um pet no avião?

— Passageiros que se sentirem incomodados podem ser reacomodados — explica Paulo Miranda, diretor de produtos da Gol.

— Toda a tripulação foi orientada sobre a permissão de mudanças de assentos nestes casos.
Problemas também ocorrem quando os bichinhos se portam mal
A abordagem é aprovada por quem trabalha no ramo. A veterinária Letícia Cazes, que presta consultoria de marketing para empresas do setor, compara a necessidade de controlar o comportamento dos bichos com a de manter as crianças sob controle: ninguém gosta de gritaria e confusão em lugar fechado.

— Incidentes como excesso de latidos, mordidas e brigas devem ser evitados a todo o custo, assim como é preciso limpar xixi e cocô imediatamente. Cães bonzinhos podem mudar de comportamento na presença de outros animais.
Por outro lado, reclamar de bichos fofos é senha para ser tachado de antipático:

— Já há uma vergonha social. Nem sempre os incomodados se manifestam porque não querem ser “malas”. Mas quem sente que o espaço foi invadido deve fazer uma abordagem educada, pedindo compreensão — diz Letícia.
Se não funcionar, a saída é recorrer á autoridade do local, seja o síndico ou um guarda. No mercado pet, o bicho pega mesmo é nas acomodações e datas de validade de alimentos e remédios em lojas, clínicas e hotéis especializados, conta Fabio Domingos, diretor de fiscalização do Procon-RJ. Ele sugere faro fino na documentação das empresas: alvará da prefeitura, certificado do Corpo de Bombeiros e registro do veterinário responsável.

— Esses documentos, que devem ficar bem à vista, indicam que o local passou por fiscalização — diz.
Nem sempre, contudo, os donos conseguem proteger seus “filhotes”. Thalita Teixeira dos Santos ficou horrorizada ao receber um telefonema do petshop informando que seu lhasa apso Cookie havia se acidentado durante o banho e tosa. — Disseram que o olho dele caiu. Quando cheguei ao local, o veterinário responsável disse que era preciso fazer uma cirurgia imediatamente — conta. Thalita foi ao Procon, que notificou o petshop, que pagou pela cirurgia e remédios do bicho. E fez tanto barulho no bairro, que o estabelecimento acabou mudando de nome e de dono.
PALAVRA DE DONO - Sensatez é um bom guia e todos têm que respeitar os pets.